Uma nova metodologia para avaliar o vigor de comunidades científicas e a liderança de seus membros que considera não apenas o número de citações recebidas por um pesquisador, mas também a quantidade de referências por ele utilizadas, foi criada pelo professor George Emanuel Matsas, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
O método, denominado Fator de Impacto Normalizado, ou NIF (Normalized Impact Factor, na sigla em inglês), pretende avançar o tradicional índice h (h-index), criado em 2005 pelo físico norte-americano Jorge Hirsch com o objetivo de quantificar a produtividade e o impacto de cientistas com base nos artigos mais citados.
“Atualmente, tende-se a associar qualidade com citações. Mas isso pode causar distorções porque diferentes comunidades têm diferentes tradições na prática de publicar e citar”, disse Matsas à Agência FAPESP.
“Tradicionalmente, a comunidade de matemáticos publica, cita e é citada menos, por exemplo, do que a maioria da comunidade de físicos. Por conta dessas diferenças, a avaliação da qualidade das pesquisas apenas pelo número de citações é bastante imperfeita”, apontou.
Nesse contexto, o foco do índice NIF está na avaliação de comunidades científicas inteiras, considerando as tradições das diferentes áreas do conhecimento. Com a metodologia, cada comunidade declara o perfil de sua tradição a partir das referências que cada pesquisador insere em seus próprios artigos.
“Dessa forma, seguindo sua tradição, um matemático, por exemplo, ao mesmo tempo em que é pouco citado também utiliza poucas referências de outros trabalhos em seu artigo, diferentemente de físicos e médicos. Esse é o ponto-chave da metodologia que proponho, que tem como base uma fórmula simples que considera o número de citações que o indivíduo recebe, ponderado pelo número de referências que ele introduz em seus artigos”, explicou.
Como resultado, a fórmula fornece o impacto efetivo de comunidades científicas distintas, distinguindo também quem são os líderes dentro desses grupos a partir da ponderação de quanto o pesquisador influencia e é influenciado pela sua comunidade.
“Os líderes são os que têm NIF superior a 1, pois eles impactam a comunidade mais do que são impactados por ela. Isso significa que o líder deve influenciar mais, ou seja, ter um número de citações maior pela sua comunidade do que o número de citações que ele utilizou em seu trabalho”, disse.
Para a validação da metodologia, o pesquisador examinou, no banco de dados científico ISI Web of Science, 223 físicos selecionados a partir de uma lista de 531 indivíduos reconhecidos em 2008 como “Outstanding Referees” pela Sociedade Americana de Física (APS).
Dos 223 pesquisadores analisados, 31% dos pesquisadores foram considerados líderes e 69% seguidores, uma vez que o NIF desses foram menores que 1. Metodologia explicada “O Fator de Impacto Normalizado pode auxiliar as agências financiadoras que precisam conhecer o desempenho efetivo das diferentes áreas visando planejar suas políticas científicas. Se quisermos que a ciência nacional alcance um papel protagonista no cenário mundial é necessário que as políticas favoreçam o surgimento de lideranças”, disse Matsas, que integra a coordenação de área de física tanto da FAPESP como do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A metodologia acaba de ser apresentada à comunidade científica por meio do artigo What are scientific leaders? The introduction of a normalized impact factor, que está disponível para consulta livre na rede de serviços arXiv.org, um portal com pré-publicações de diversas áreas do conhecimento, entre elas física, matemática e ciências da computação.
Segundo Matsas, o mesmo artigo foi submetido para a Revista Scientometrics e ainda está em processo de análise. “A utilização da metodologia independe da publicação desse artigo. Qualquer instituição financiadora ou pesquisador que queira calcular o NIF de sua comunidade científica pode fazê-lo a qualquer momento”, destacou Thiago Romero.
Para ler o trabalho What are scientific leaders? The introduction of a normalized impact factor,
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